Se você me pedir para descrever o Peru com uma única palavra, eu não precisaria pensar muito na resposta: Grandioso! Mas o que fazer além do Machu Picchu? Embora ele seja a grande estrela do turismo, os deuses foram generosos com o país: temos desertos, geleiras, lagoas, oásis, montanhas infinitas e um pedacinho do Lago Titicaca.
Como se não bastasse, ainda é um banho de história, cultura e tem uma culinária maravilhosa! Durante 18 dias percorri o país e conheci Ica, Paracas, Huaraz, Cusco / Machu Picchu e Puno e pude me apaixonar pelas diversas versões do Peru que conheci. Nenhum lugar é igual ao outro. O Peru é isso: várias viagens em uma só.
Veja aqui o roteiro que fiz. Ficou com alguma dúvida? Pode deixar um comentário! Ah, neste post tem detalhes de quanto gastei em cada cidade. Assim, você já pode ter ideia de quanto pode custar essa viagem. 😉
Dia 01 – Chegada em Lima
Depois de um um voo de 05h entre São Paulo e Lima, cheguei a capital peruana. Confesso que a cidade nunca me atraiu muito. Por isso, fiquei apenas o tempo suficiente para passar pelo bairro de Miraflores, almoçar um ceviche, comprar o chip trocar dinheiro e seguir para a estação da Cruz del Sur, na Javier Prado, onde segui para Ica, que fica a pouco mais de 300 km dali.
Cheguei à noite, jantei e marquei o passeio para o dia seguinte. ❤
Dia 02 – Reserva Nacional de Paracas e Islas Ballestas

O início da viagem não poderia ter sido melhor! O guia passou no hotel por volta das 7h30 e seguimos para a cidade de Paracas, onde ficam as Islas Ballestas.
Alguns minutos depois de sair do píer em direção às islas Ballestas, tive meu primeiro contato com os vestígios das civilizações pré-colombianas. Em meio a uma montanha arenosa, está o candelabro, um desenho de 170 metros de altura e 54 metros de largura, cuidadosamente esculpida no local. Assim como as linhas de Nazca, que não fica muito longe dali, o seu significado continua sendo um mistério.

O passeio segue por algumas ilhas do arquipélago é o refúgio para centenas de pinguins, leões marinhos e mais de 200 tipos de pássaro. Embora tenha sido apelidada de “Patagônia econômica” pelos guias, as riquezas naturais por lá podem ser definidas como muitas coisas, menos humilde.

Para muitos, o passeio encerra aí. Mas, para quem tem tempo, vale muito a pena conhecer a Reserva Nacional de Paracas, uma imensa região desértica com vista para o mar. A Playa Roja, com suas areias vermelhas, é uma das que mais impressiona. Paramos para almoçar e seguimos para uma das praias.
Dica: fechei o tour completo no hotel e não tive problemas. Mas o que faria hoje seria ter comprado com eles apenas as Islas Ballestas e depois do tour, combinar o preço com um taxista que também fosse guia para a reserva. Assim, poderia parar nos locais que quisesse e por quanto tempo quisesse.
Dia 03 – Óasis de Huacachina

Se alguém me perguntasse o que me motivou ir para Ica, o Oásis de Huacachina seria a resposta. Desde que vi fotos pela primeira vez, lembro da sensação de encantamento e de “preciso ir neste lugar”.
O pequeno vilarejo fica às margens de um lago, o último que restou da regA maior atração do lugar é pegar um buggy para percorrer as dunas, fazer sandboard e apreciar o pôr do sol. Fiquei em um hotel em Ica, que fica a 5km do oásis, mas lá também tem opções de hospedagem como o Desert Nights.
Ainda é possível marcar um tour pelas fazendas de pisco. Mas, depois do passeio pelas dunas, voltei para Lima. Dali sairia meu ônibus para Huaraz. Como a viagem era longa, escolhi um ônibus leito e dormi muito bem a noite inteira.
Dia 04 – Huaraz / Laguna Paron
Laguna Paron, vista de baixo
Cheguei em Huaraz às 6h da manhã, fui direto para o hotel onde tomei café da manhã e fui procurar uma agência para começar a fazer os tours.
Huaraz atrai os turistas por conta das lagoas e trilhas. Mas, antes de marcar qualquer coisa, você precisa ter em mente que a cidade fica a mais de 3 mil metros de altitude, o que pode afetar seu corpo. Tonturas, enjoos, vômitos, dor de cabeça são alguns dos efeitos do tão temido soroche, o mal de altura.

O primeiro passeio que decidi fazer foi a Laguna Paron, que fica a 4170 metros de altitude. A van para em frente a lagoa, que é linda. Mas, para ter a vista mais bonita, é preciso subir um “morrinho” que tem um caminho em zigue-zague e a parte final é feita sobre as pedras.
Acho que é um passeio que deixaria para o segundo dia, pois a altitude deixa o caminho complicado.
Dia 05 – Llanganuco e a triste história de Yugay
O tour pela laguna de Llanganuco ( Yanganuco) é muito tranquilo e deveria ter feito no primeiro dia. A van deixa os turistas na entrada e você caminha por 5 minutos até chegar até ela.

No caminho passamos por Yugay, uma cidade que, em 1970, foi completamente soterrada por um terremoto. Milhares de pessoas morreram nesse dia e, ironicamente, os únicos que se salvaram foram os que conseguiram alcançar o cemitério, que ficava no topo de um monte.
A história é bem triste e ainda é uma ferida aberta para os moradores da região. É difícil ficar bem depois de ouvir as histórias.
Dia 06 – Glacier Pastoruri, um dia bem sem graça

O Pastoruri é um dos passeios mais famosos da região. O trajeto até o ínicio da trilha é bem bonito! Mas a geleira em si…achei o tour mais sem graça que fiz no Peru, me julguem.
O caminho de 2 km é todo pavimentado, o que ajuda bastante, mesmo assim a caminhada é difícil por conta da altura. Muita gente desistia de andar e pegava os cavalos. Chegando lá, é uma geleira pequena e acho que foi o dinheiro mais mal investido dessa viagem.

Os especialistas acreditam que o glacier vá sumir completamente até 2036. Além do aquecimento global, o turismo no local também contribui para acelerar o processo.
Dia 07 – Laguna 69
O dia mais esperado! Como era a trilha mais difícil, deixei por último. O guia me pegou no hotel às 05h da manhã e, no caminho, teve uma parada para tomar café. O caminho até o início da trilha é deslumbrante e eles param em algumas lagoas.
A trilha é tão difícil quanto dizem. São três horas de subida e dois trechos deles são em zigue-zague. Caminhe devagar, não tente seguir o ritmo de outras pessoas e dá tudo certo.
Para esse passeio especificamente eu pegaria um guia particular. Assim não precisaria ficar presa aos horários do grupo.
Esse foi meu último dia em Huaraz. À noite, peguei um ônibus noturno para Lima.
Dia 08 – Cusco, finalmente!

Cheguei em Lima às 07h, fui direto para o aeroporto. Peguei meu voo para Cusco e, já do alto, pude ver o quanto a cidade é linda! Ao sair do avião a gente se depara com um cesto repleto de folhas de coca que é oferecido aos turistas.

Estava muito cansada dos dias em Huaraz, então decidi apenas passear pela cidade, ver algumas agências e descansar. Fiquei apenas pela Plaza das Armas e pelo Mercado San Pedro. O ideal é ficar em um hotel perto da Plaza das Armas.
Dia 09 – Cusco e City Tour
Fui mais uma vez passear pela cidade. Comprei o boleto turístico, que dá direito a entrar em diversas atrações, e marquei o city tour para às 14h30.

A primeira parada foi a Catedral de Cusco ( 15 soles ) que, embora seja uma construção dos espanhóis, ainda carrega um pouco da arquitetura Inca. Qoriqancha, Templo do Sol, é um dos mais importantes sítios arquelógicos da região e explica muito da relação dos Incas com a arquitetura.
Ah, também é o momento de sentir muita raiva dos espanhóis.
Em seguida, fomos para Sacsayhuaman, na saída da cidade. Não se sabe ao certo as datas de construção, que servia como fortaleza para a cidade Inca. Aliás, como não há registros escritos, ainda há dúvidas sobre a cronologia e funcionalidade de várias obras Incas. Embora existam teorias, ninguém sabe como os incas conseguiram levar as pedras até o local.
Outra coisa que impressiona: Não existe nada para “colar” as pedras, elas são apenas encaixadas. Enquanto as construções espanholas ruíam com os fortes terremotos que atingem a região, as construções incas seguem aí firme e forte.
Também conhecemos Q’enqo um sítio arqueológico que servia para rituais fúnebres e sacrifícios. Existe uma passagem por entre as rochas onde podemos observar uma “mesa” de pedra onde colocavam os corpos. A baixa temperatura do local ajudava a manter o estado de conservação.
Pukapukara, antigo quartel dos Incas, é a última parada do tour e de onde se vê o pôr-do-sol.
Todas as três atrações estão incluídas no boleto turístico. Na volta, quase todos os tours param em lojas para que os turistas comprem produtos de lã de alpaca. Spoiler: tudo caro.
Dia 10 – Maras Moray e Salineras

O dia, na verdade, comecou em Chinchero. Ali conhecemos algumas artesãs que nos mostraram como é feito o tingimento natural das lãs com que tecem as roupas. É bem interessante e dá para comprar algumas peças por lá.

Chegamos em Maras Moray e as fotos não fazem justiça ao lugar . Aqui você tem noção da sabedoria dos incas. Cada círculo possui a variação de um grau de temperatura e, assim, possuem um microclima diferente. Moray era um laboratório agrícola dos Incas, que selecionavam as melhores sementes e testavam o plantio em diferentes círculos.

As salineras, como o nome sugere, nos mostrou o complexo processo de produção de sal na região. São mais de 3 mil piscinas que são preenchidas com águas salgada que vem da montanha que chegam ali através de valetas. O sal aparece com a evaporação da água e o ritual é repetido mais duas vezes. Cada piscina produz 150 kgs de sal e o processo demora 10 meses para ser concluído.
Dia 11- Cusco, um dia explorando a cidade
O plano inicial era fazer a Laguna Humantay, mas como tinha feito várias em Huaraz e estava cansada, preferi dormir um pouco mais. Turistar é bom, mas caminhar meio que sem rumo e sem se preocupar com horários é uma delícia!

Embora eu ame museus e estava em uma cidade cheia deles, para mim, a história de Cusco está nos sítios arqueológicos. Por isso, visitei bem poucos nessa viagem.

Passei horas caminhando pelas ruelas do Bairro San Blas, descobrindo pequenos restaurantes, galerias de arte, conversando com os artistas. Meu dia terminou com um pôr do sol na Igreja San Cristobal.
Dia 12 – Vale Sagrado
Decidi fazer o Vale Sagrado um dia antes do Machu Picchu. Acordei cedinho, coloquei uma muda de roupas e carreguei tudo que precisaria para os próximos dois dias. Deixei a mala maior no hotel e segui com o tour para o Vale Sagrado.

Uma dos pontos mais importantes fica em Pisac, onde é possível ver algumas ruínas. Mas, sinceramente, nada nesse dia me impressionou tanto quanto Ollantaytambo. Os Incas possuem uma relação espiritual com as montanhas: quanto mais alto, mais perto dos deuses. Eles também acreditavam que tudo que fosse sagrado na terra, tinha uma versão celestial. Para eles, a Via Lactea era um reflexo do Wilcamuy, rio que cortava a cidade.
O lugar realmente era abençoado pelos deuses. Com terras férteis, o local também era perfeito para produção agrícola.
Depois do tour, peguei o último trem para o Machu Picchu. Hoje, eu pernoitaria em Ollataytambo e só no dia seguinte pegaria o trem para Águas Calientes. Achei a energia do lugar muito incrível e gostaria de caminhar pelas ruínas novamente.
Chegamos em Águas Calientes por volta das 21h, compramos o ticket do ônibus para ir ao Machu Picchu e fomos descansar. Pegamos um hotel perto do ponto de ônibus, onde tínhamos que estar bem cedinho.
Dia 13 – Machu Picchu
Confesso: O Machu Picchu é uma atração que sempre achei superestimada… Até vê-lo de perto!

O dia começou cedo. Muito cedo! Às 4h30 já estava no ponto do ônibus e já haviam umas 20 pessoas na minha frente. Os ônibus começam a circular às 5h e saem a cada 5 minutos. Garoava um pouco e, quando desci do ônibus, a chuvinha fina virou uma tempestade!
Bem, quando cheguei ao mirador tudo estava coberto por nuvens e não dava para ver absolutamente nada. Foram 4 horas de chuva forte, mas passou. E finalmente ver as nuvens se dissiparem e toda a imponência no Machu Picchu é uma das sensações que vou carregar para sempre.
Aproveite muito o momento. Esse é um lugar que merece ser não apenas registrado em fotos, mas apreciado. O Machu Picchu é um lugar tão grandioso que faz você ter consciência do quão pequeno você. Mas, ao mesmo tempo, é impossível não ser invadido pela paz.
Final do dia, descemos a montanha e voltamos para Cusco às 19h e chegamos por volta das 23h. Minha amiga havia subido o Huayna e, para quem faz o mesmo, acho bom dormir mais uma noite em Águas Calientes, já que é bem cansativo.
Dia 14 – Cusco
Machu Picchu foi bem cansativo. Então tirei mais um dia para fazer vários nadas. Caminhei um pouco pela cidade, fiquei em um barzinho e fiz compras em alguns mercados.
Dia 15 – Montanhas Coloridas

Segundo o guia, a Montanha Colorida é atualmente a segunda atração que mais recebe turistas na região, ficando atrás apenas do Machu Picchu. Até poucos anos atrás, a “Rainbow Mountain” ficava encoberta por neve que, por conta do aquecimento global, desapareceu.

São 4 horas em um ônibus até chegar ao início da trilha. A caminhada dura, em média 3h, e é bem puxada. Ao longo da trilha, locais oferecem alugar cavalos que também estão nitidamente cansados. Os preços da “carona” começam em 60 soles e vão baixando conforme a Montanha Colorida se aproxima.Aliás, o comércio é forte por ali. Vários moradores locais vendem refrigerante, folhas de coca, chocolates e as crianças volta e meia pedem dinheiro em troca de fotos.
Como falei, é cansativo, mas vale a pena. Para falar a verdade, a montanha em si não tem tanta graça, mas o caminho até ele é lindo. E é legal ver a determinação das pessoas para chegar ao fim, o orgulho de pessoas mais velhas que conseguem concluir.
O lugar é bem cheio e tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Dúzias de turistas disputavam espaço procurando o melhor ângulo para fotos, criadores de alpaca tentavam convencer a gente a tirar fotos com os bichinhos, um padre rezava uma missa (!) e uma mulher ao lado estava vendendo Cusqueña, uma cerveja popular por lá.
Esse é um passeio que dura o dia inteiro, então não faça planos adicionais.
Dia 16 – Puno

Saí de Cusco em direção a Puno, cidade que fica às margens do Titicaca, maior rio navegável do mundo. Cheguei por volta das 15h30. Caminhei um pouco pela cidade, que tem poucos atrativos. Troquei dinheiro e marquei o tour para outro dia.
Dia 17 – Islas Flutuantes e Amantani
A van passou para me pegar no hotel às 7h30 em ponto. Fomos para o píer de onde saem vários barcos em direção às Islas Flutuantes de Uros.

Segundo o guia, há muitos séculos um povo que vivia em guerra com os Incas, perceberam que estavam em grande desvantagem e encontraram uma solução, no mínimo, curiosa: no meio de Titicaca eles construíram centenas de ilhas flutuantes e viviam por lá.
Hoje essa é uma atração apenas “para turista ver”. Embora eles insistam em dizer que todas as famílias moram ali, a maioria volta para Puno no final do dia e retorna bem cedo. São montadas banquinhas de souvenirs e a sensação que tive é que a única preocupação dessa parte do tour era como tirar dinheiro dos turistas.
Se tivesse feito apenas essa parte do passeio teria ficado bem encaralhada consternada.

Seguimos para Amantani e cada um foi recebido por uma família, com quem passaria à noite. Não há eletricidade ou água encanada por lá. Levei só uma mochila com o que precisaria para esses dois dias, deixei na casa e fiz uma pequena trilha para o templo de Pachamama – a mãe terra.
Foi um dia mágico. Acho que a possibilidade de desligar de tudo e viver apenas o momento fizeram toda diferença. À noite, uma lua cheia imponente refletia nas águas do Titicaca. Tem dias que você não precisa de mais nada.
Dia 18 – Taquili e regresso a Puno

Depois do café da manhã, o grupo se encontra com o guia no porto da ilha e segue para Taquili. É uma ilha parecida com Amantani, bem bonitinha. Chegamos em Puno por volta das 16h.
As agências vão tentar te vender o passei como uma “experiência de vicência”, onde você conhece mais sobre a família. Spoiler: não é. Em geral, as famílias não vão estar muito interessadas em interagir, mas pode ser que você dê sorte. A minha só estava interessada em vender seus produtinhos e ficou bem chateada porque não comprei nada.
Vale muito a pena ir, mas é muito mais para curtir o lugar, que é incrível, do que pela interação.
Dia 19 – Partiu, Bolívia!
Logo cedo me despedi do Peru e peguei um ônibus em direção à La Paz, na Bolívia.
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