
“Older than history, older than tradition, older even than legend and looks twice as old as all of them put together” – Mark Twain
“ Mais antiga que a história, mais antiga que tradições, mais antiga até do que as lendas e parece duas vezes mais antigas do que tudo isso colocado junto” – Mark Twain
É impossível conhecer a Índia e ignorar o lado sagrado do país. E, sem dúvidas, Varanasi, é um dos lugares onde essa espiritualidade é mais latente. Não é para menos: segundo a lenda, a cidade mais sagrada para os hindus, foi criada pelo próprio deus Shiva há cerca de 5 mil anos.

Em Benaris, como também é conhecida, a vida gira em torno da morte. Todos os dias, centenas de famílias chegam à cidade para cremar seus mortos. Cerca de 300 corpos são cremados diariamente às margens do Ganges, em cerimônias que acontecem durante 24 horas. A alta demanda tem uma explicação: os hindus acreditam que aqueles que têm suas cinzas jogadas nesse ponto do rio mais sagrado da Índia, não precisam mais reencarnar.
Morrer em Varanasi, claro, tem seu preço. Cada família tem que desembolsar, pelo menos, 4000 rupias ( cerca de US$61). O “pacote” inclui cerca de 200 kgs de madeira usados para fazer a fogueira, oferendas para os deuses e Ghee, que acelera a cremação. Esse é provavelmente o único valor que os indianos não tentam negociar.

Ser espectador desses rituais é uma experiência intensa. Na cultura ocidental, onde buscamos abreviar o máximo possível o contato com a morte e, claro, com os mortos, isso pode causar estranheza. Os hindus enxergam a morte como parte da vida e ver esses rituais a céu aberto e de forma tão natural é, sim, impactante.
As cremações no Ganges atraem também milhares de turistas, que acompanham tudo das escadarias dos Ghats ou de pequenos barcos no Ganges. É sempre bom lembrar: por mais exótico que o momento possa parecer, você está fazendo parte de um funeral. Evite tirar fotos próximo das fogueiras e das famílias dos mortos.

Ser o palco de cremações e receber restos mortais de centenas de pessoas diariamente não inibe a vida em torno do Ganges. Várias pessoas tomam banho em suas águas sagradas em busca de purificação, há quem lave roupa, há quem ouse umas braçadas e ainda quem busque pertences dos mortos na parte mais rasa.

Além das cremações, existem duas cerimônias diárias importantes no Ganges. A primeira ( e mais bonita, na minha opinião) é a do nascer do sol, que simboliza o renascimento e uma nova vida. Mesmo antes de clarear, já existem sacerdotes fazendo orações, pessoas se banhando no rio e fazendo orações. É incrível ver o sol laranja quebrando a névoa da manhã e dando uma nova vida à Varanasi.

A segunda é a cerimônia do pôr-do-sol, que acontece no Ghat principal, Dashaswamedh. A cerimônia consiste em religiosos tocando sinos para espantar os maus espíritos e colocando oferendas no rio. No decorrer da cerimônia, são colocadas centenas de velas flutuantes no rio, que deixam vários pontos de luz na escuridão.
Nos dois casos, acho que o melhor lugar para ver as cerimônias é de um dos barquinhos. Os preços podem ser negociados direto com o barqueiro ou no hotel. Pagamos cerca de 400 rupias por duas horas.
Fora das margens do Ganges, Varanasi é um emaranhado de ruelas confusas onde é bem fácil de se perder. Se você for mulher, evite andar desacompanhada por ali.
Quanto tempo ficar em Varanasi?
Duas noites e um dia inteiro são suficientes para ver todas as cerimônias e os templos da cidade. Mas se você quiser uma imersão, acho que três dias inteiros.
Onde ficar em Varanasi?
Old Town, sem dúvidas! E quanto mais perto do Ganges, melhor. Veja opções de hospedagem na cidade aqui.
Como chegar em Varanasi?
Existem voos saindo de Nova Delhi por preços que variam entre R$ 130 e R$ 280. A duração é de aproximadamente 1h20. Um táxi do aeroporto para a cidade antiga custa cerca de 600 rupias ( algo em torno de 9 dólares)
Também é possível marcar um trem saindo de Nova Delhi. Mas o caminho é longo: são 13 horas de viagem, que custam cerca de 42 dólares.
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Excelente post 🙂 ainda não conhecemos essa região mas queremos muito visitar 🙂
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Poxa. Que relato interessante e que lugar diferente. Adoro esse tipo de experiência quando conheço outros destinos, pois não é algo tão “turístico” mas ao mesmo tempo é uma experiência bem legal.
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A India é um destino (ainda) muito contrastante para mim, porém cada vez que leio um texto como esse, tenho vontade de ir imediatamente. Parabéns pelo relato.
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Que texto maravilhoso!!! Adorei descobrir estes detalhes da India.
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todos sempre dizem que Varanasi é um divisor de águas pra quem conhece a Índia, eu quero muito conhecê-la e saber mais de sua história é um local bem fascinante!
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Belo relato.Ontem vi um documentário de um rapaz francês que viaja o mundo de trem. E ele foi pra Varanasi. Confesso que fiquei arrepiada quando ele perguntou a um cara se ele não tinha medo da poluição do rio e o cara estava com um galão, pois ele leva a água do Ganges pra beber…Aí em seguida, ele entrevistou um representante do governo, que disse que uma amostra de água tem cerca de 31 milhões de partículas de coliformes fecais ou algo assim, quando o aceitável pra nadar é até 500…Não dá pra negar que é preciso ter fé pra ignorar tudo isso e entrar no rio. É um povo admirável. Só tenho receio de visitar a Índia porque me irrito com o tratamento dado às mulheres e sempre viajo sozinha…
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Deve ser realmente impactante. Vi um documentário com o Morgan Freeman no Netflix essa semana e muitas cenas foram feitas em Varanasi. Meu marido já visitou e achou demais. Deve ser um choque de cultura mesmo.
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Não conhecia esta tradição mas a verdade é que também não conheço a Índia. Tenho adiado a viagem porque tenho ideia que o choque cultural vai ser grande e ainda não me sinto preparada, mas fico fascinada ao ler estes relatos de tradições e costumes indianos. É uma forma de perspectivar a vida (e a morte, neste caso) completamente distinta da nossa.
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